A presidente Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB)
baixaram o tom no penúltimo debate antes do segundo turno das eleições, depois
de um confronto bastante agressivo na última quinta-feira, procurando usar
desta vez suas propostas como munição contra o adversário.
No duelo de domingo, realizado pela TV Record, a presidente
insistiu em comparar os 12 anos de governo do PT com o período de governo
federal do PSDB, enquanto o tucano lançou uma série de críticas aos quatro anos
da petista no comando do país.
No lugar episódio em que Aécio foi parado por uma blitz da
Lei Seca ou de acusações de que o irmão de Dilma foi um funcionário fantasma da
prefeitura de Belo Horizonte, temas que marcaram o debate anterior, dessa vez
os presidenciáveis preferiram tratar de assuntos como gestão pública e
economia.
As denúncias de irregularidades na Petrobrás, no entanto,
voltaram a ser um dos pontos dominantes, ainda que Aécio não tenha centrado
tanto fogo nesta questão como em encontros anteriores.
Em uma de suas abordagens, o tucano pressionou a presidente
sobre o papel do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, apontado pelo ex-diretor
da Petrobras Paulo Roberto Costa como um dos destinatários de recursos que
teriam sido desviados da estatal.
Aécio teve de Dilma a resposta costumeira, de que seu
governo permite investigações e a acusação de que as gestões tucanas não
investigam e "engavetam".
Em sua tática de comparar a era petista com os anos FHC,
Dilma rebateu as críticas de Aécio à política econômica lembrando o período em
que o país teve de recorrer a empréstimos do Fundo Monetário Internacional.
O tucano citou dados do FMI que apontam que a economia
brasileira crescerá somente 0,3% neste ano e a petista contra-atacou acusando-o
de pessimista e ironizando a fonte usada pelo adversário.
"Eu sei que o senhor acredita no Fundo Monetário
Internacional, até porque, vocês sempre recorreram a ele quando
necessário", cutucou a presidente.
Dilma chegou a afirmar que Aécio não podia "lavar as
mãos" em relação ao governo FHC quando o tucano disse que
"ainda" não governou o Brasil em resposta às comparações feita pela
rival.
Aécio, por sua vez, cobrou por diversas vezes mais
"gestão" e "governança" da presidente e criticou uma
declaração de Dilma que disse ser "inequívoco" que a inflação está
sob controle.
O tucano citou como
um dos exemplos de falta de gestão e governança o que chamou de "números
pouco confiáveis" do governo petista. De acordo com ele, resultado do
aparelhamento de instituições como o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) e o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) que,
na avaliação do tucano, "perderam credibilidade".
"A candidata
acaba de dizer que a Petrobrás vai muito bem, obrigado. Eu acho que ela vai
muito mal", disse Aécio, antes de prometer que vai
"profissionalizar" a estatal, assim como os bancos públicos, os quais
ele prometeu fortalecer se vencer a eleição no dia 26.
DISTENSÂO
Tanto a presidente como o tucano reconheceram que a
discussão foi diferente no encontro da Record, ainda que tenha sido um encontro
duro.
"Eu considero que foi um debate propositivo e de muito
melhor nível", disse Dilma após o encontro.
Aécio foi na mesma linha e aproveitou para criticar a
estratégia petista de comparar as gestões do PT com o período do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso.
"Eu acho que é isso que as pessoas esperam, propostas.
E eu vou continuar sempre tentando falar do futuro. A candidata prefere sempre
uma comparação com o governo de muitos anos atrás", disse.
A avaliação de que o debate de domingo representou uma
distensão em relação ao duelo anterior também ecoou entre integrantes das duas
campanhas, embora cada uma delas tenha buscado jogar no rival a
responsabilidade pelo agressivo duelo da última quinta-feira.
"Ele chegou ao debate anterior muito nervoso",
disse o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante em um dos intervalos
se referindo a Aécio. "Mas ele está com dificuldade de manter o nível,
porque sempre que a gente compara o nosso governo com o do Fernando Henrique, a
gente cresce."
Já para o candidato a vice na chapa de Aécio, senador
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), a agressividade partiu de Dilma.
"Este debate está melhor", avaliou ele. "Ela
(Dilma) não veio com a agressividade do debate anterior. No debate anterior ela
veio com uma disposição selvagem de atacar, e recebeu o troco adequado."
Aécio e Dilma terão
seu último duelo na próxima sexta-feira no debate da TV Globo.
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